Cancro Colonoscopias passam a poder ser todas feitas com sedação
Colonoscopias passam a poder ser todas feitas com sedação
Dois meses depois de ser conhecido o caso de uma doente que esperou dois anos para fazer uma colonoscopia num hospital público. O Ministério da Saúde decidiu avançar com uma série de medidas para garantir o aumento, no Serviço Nacional de Saúde (SNS), deste tipo de exames que permitem diagnosticar o cancro colo-rectal . A principal novidade é que, a partir de 1 de Abril, quem precisar de fazer colonoscopias nas unidades convencionadas com o SNS vai poder fazê-lo sem ter de pagar à parte a analgesia (sedação). Estipula um despacho esta terça-feira publicado no Diário da República.
A gratuitidade da analgesia pode parecer um detalhe, mas é fulcral porque muitos doentes não fazem o exame por não terem dinheiro para suportar este procedimento. Que pode custar entre 120 a 250 euros nas unidades com acordos com o SNS. Sublinha o presidente da Associação de Luta contra o Cancro do Intestino (Europacolon), Vítor Neves.
“A adesão é menor porque há o tabu de que é um procedimento invasivo e doloroso”, diz.
Assinado pelo secretário de Estado Manuel Teixeira, o diploma explica que este “novo pacote de cuidados” garante.”A colonoscopia associada à analgesia do doente, reduzindo o efeito dissuasor à realização do exame”. Esta medida, frisa-se, vai representar “um elevado esforço financeiro do Ministério da Saúde” para obter resultados “nesta área prioritária”.
Ao mesmo tempo, o despacho estabelece que, até 31 deste mês, as administrações regionais de saúde terão de acordar com os hospitais públicos um aumento do número de colonoscopias. Um aumento que não é possível quantificar por enquanto. Admitiu ao PÚBLICO a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS). “Apenas poderemos dar a indicação deste aumento após o processo de contratualização com as unidades hospitalares”. Explicou o gabinete de imprensa da ACSS.
No diploma reconhece-se que o número actual de unidades que têm convenções com o SNS para a realização de colonoscopias é insuficiente.
Para “permitir um alargamento desejado da detecção precoce do cancro colo-rectal”.
E sublinha-se que é preciso assegurar este tipo de exame. Enquanto o processo de alargamento das convenções. Que está em curso, não estiver concluído.
Também até 31 de Março, a Direcção-Geral da Saúde terá de publicar as regras de referenciação hospitalar. Além das normas de orientação clínica para o rastreio do cancro colo-rectal e para a realização de colonoscopias. Refere ainda o diploma, que recorda a obrigação de os hospitais a publicarem nos seus sites na Internet informação sobre os exames realizados e os tempos de espera. Esta obrigação já está prevista desde 2011, mas são poucos os hospitais que a cumprem.
O tratamento do cancro colo-rectal “tem uma probabilidade de sucesso mais elevada quando a doença é detectada precocemente”.
Pelo que é recomendável que todas as pessoas entre os 50 e os 74 anos “ efectuem uma pesquisa de sangue oculto nas fezes de dois em dois anos”, lembra-se. No entanto, como este exame pode indicar outras patologias, se for positivo, “deve ser o médico de família a fazer uma avaliação completa antes de enviar o doente para um hospital”. O objectivo é evitar o envio de um elevado número de doentes para os hospitais. E o consequente aumento dos tempos de espera para consultas de gastrenterologia e exames de diagnóstico.
Quando o caso da doente que aguardou dois anos por uma colonoscopia foi divulgado em Janeiro, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo anunciou que ia aumentar em cerca de 20% o número de colonoscopias nos hospitais públicos até ao final do ano (mais 5500). Em Fevereiro, o ministro da Saúde admitiu que pretende ter nos exames um sistema idêntico ao das cirurgias. Que permite recorrer ao sector privado quando o tempo de espera máxima definido é ultrapassado.
Em Portugal há cerca de sete mil casos de cancro de intestino por ano. Em média, morrem 10 pessoas por dia com a doença.
Vítor Neves acredita que com um rastreio de base populacional com um exame que é muito mais acessível do que a colonoscopia – a pesquisa de sangue oculto nas fezes – seria possível evitar muitas destas mortes. Há seis anos e meio que reclamamos este rastreio, recorda.